A noite caía, as espessas nuvens formavam uma dança, um balé da natureza, algo indizível. Elas se estendiam no céu formando um tipo de manto cor de chumbo, dando um ar meio tenebroso naquela tarde. Eu estava assentado na varanda de uma pequena casa no alto de um monte, lendo um bom livro e meditando sobre as grandezas de Deus. O contraste do céu, com a beleza das verdejantes paisagens dali, às vezes me faziam suspirar. Era como se cada árvore, cada planta, exultasse em agradecimento pela fina chuva que caía. As pequenas e finas gotículas de chuva formavam em minha frente algo que parecia mais um lençol, da mais fina seda, através da qual ao longe, mas não tão longe, se enxergava uma imensa cadeia de montanhas rochosas, que formavam uma das mais belas paisagens que já presenciei. Com o cair da chuva sobre as imensas rochas, as cores se misturavam e uma cor prata brilhante ganhava vida ao longo da enorme montanha. Diante daquele espetáculo da natureza, lembrei-me de uma simples frase que me chamou a atenção durante a viagem de carro até este lugar maravilhoso. Ela estava escrita no vidro de trás de um carro.
FIEL ATÉ O FIM…
Toda aquela maravilha me fez perceber o quanto Deus é fiel, o quanto é bom, como ele é maravilhoso e gracioso. Eu nunca mereceria estar ali, nunca mereceria presenciar tamanha beleza, mas sua fidelidade é imensa e permitiu que mesmo sem merecer eu presenciasse tamanha demonstração de Amor e Perfeição.
Deixei de lado meu livro por alguns momentos, porque certas palavras insistiam em minha memória. Preciso admitir, no primeiro momento elas não me soaram num tom muito agradável, pelo contrário trouxeram um grande peso de responsabilidade. Meu coração começou a palpitar mais forte e fui forçado a parar e pensar sobre aquilo.
Aquela voz insistente dizia:
E VOCÊ? É FIEL? CONTINUARÁ SENDO FIEL ATÉ O FIM…?
Logo percebi que não era uma voz acusativa, mas mansa e motivadora. Sabia que era Deus, sabia que era o Espírito Santo, sua presença era perceptível, a paz, a alegria que enchia o coração, sim, era o meu Senhor falando comigo!
O conhecido versículo de 2Tm 4. 6-7 me veio à mente.
“Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifico, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combati, completei a carreira, guardei a fé.”
Foi aí que percebi como era grande a diferença entre o local que eu estava e o local onde o apóstolo Paulo estava, quando proferiu essas palavras.
Diferentemente de sua primeira prisão em Roma, onde esteve trancafiado em casa e podia continuar ensinando e falando de Jesus, agora, provavelmente, estava encarcerado numa masmorra. O chão e as paredes gélidas, a pouca iluminação fazia com que sua visão, que alguns historiadores dizem que não era das melhores, piorasse. A umidade aumentava o risco da contaminação de doenças, os dias frios eram um terror, motivo pelo qual o apóstolo pede para que Timóteo levasse sua capa, suas narinas já nem sentiam mais o forte cheiro de excremento humano do local. Nem mesmo seus livros estavam com ele, para que pudesse passar o tempo. Não fosse tudo isso, ainda vivia sobre a opressão da certeza de sua iminente morte.
Sua carta mostra sua melancolia, sua solidão. Paulo se sentia desamparado por seu amigo Demas, que acabou se desviando, seus demais amigos como Tito e Crescente, haviam partido para outras regiões para pregar o evangelho, apenas Lucas, o médico estava o auxiliando. Sentia-se traído por Alexandre, o latoeiro, que lhe causou grandes males. E por fim se sentiu abandonado porque ninguém esteve presente na sua primeira audiência de julgamento.
Que contraste! Senti-me um privilegiado, alguém agraciado por Deus. Mas percebi que apesar das inúmeras diferenças ambientais, sociais, culturais entre nós, precisávamos ter algo em comum. Algo que Paulo apesar de todas as circunstâncias adversas, esbanjava em suas palavras. A certeza de que continuaria firme até o fim.
Ele diz: “Desde agora, a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.” 2Tm 4.8.
Estas palavras mostram uma promessa maravilhosa para todos nós, mas não apenas isso, por detrás da promessa, vejo um homem convicto de seu futuro, convicto de que permaneceria firme, mesmo diante da morte. Aqui vejo um homem, FIEL ATÉ O FIM.
É esta convicção que eu e todos os demais cristãos do mundo precisamos ter, um desejo pré-concebido de permanecer firme. Uma convicção que vai além das circunstâncias da presente existência, uma convicção que transcenda o temporal, e que se fortaleça no sobrenatural, buscando e achando forças no Divino; e nas coisas que nos são divinamente prometidas. Porque estas, são eternas.
Não é uma convicção subsidiada apenas no intelecto, advinda de muitos esquemas teológicos ou estudos sistemáticos. Nem tão pouco é o emprego da força de vontade humana para se alcançar tal convicção. Esta convicção não está ligada com o esforço humano no sentido de aquisição do mérito espiritual por algum rito ou ritual, por algum ato de bondade ou generosidade, ou por quaisquer meios humanos de conquistar através do seu suor aquilo que é inconquistável. Pois esta convicção não está naquilo que fazemos, mas sim naquilo que Cristo fez por nós, concedendo-nos graça e capacitação através do Espírito Santo para podermos permanecer fiéis.
Se não fosse sua infinita graça, ainda que buscássemos nunca o acharíamos, e ainda que quiséssemos ser de alguma forma fiéis nunca conseguiríamos, não fosse essa força avassaladora que impulsiona o verdadeiro Cristão a fazer a vontade de Deus; o maravilhoso Espírito de Deus.
Portanto convicto naquilo que Cristo fez pela humanidade na Cruz do Calvário, assim declaro, que serei fiel até o fim. Independentemente das circunstâncias da vida, sejam elas adversas, sejam elas favoráveis, seja nos momentos de alegria, seja nos momentos de angustia, seja no alto de um monte, diante de um maravilhoso espetáculo da natureza, seja em uma masmorra fria e gelada, o meu coração estará sempre firmado em Cristo Jesus, verdadeira esperança para humanidade.
Sérgio Roberto de Abreu Júnior
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