Um “cadim” de Deus
Pouquinho
Ei-lo, ei-lo, um bom mineiro, assentado sobre a relva verde, olhando ao longe, toda a beleza de uma terra abençoada, terra de uma magia rasgada, de norte a sul cantada. Oh! terra das alterosas, são nas pequenas coisas, em meio a tanta beleza que um bom mineiro pode ver “um cadim de Deus”.
Um cadim de Deus, nas tuas montanhas. Ei-las lá! Intocáveis, impávidas, colossais. De belezas exuberantes, desenhadas por um artista divinal, colocadas ali como marcas de uma terra sem igual.
Marcas que fazem um bom mineiro suspirar. Suspirar por seus vales, de formosuras incomparáveis e de vida virgem. Regados por riachos caudalosos, de águas geladas, que com maestria única moldaram majestosas cachoeiras. Águas que geram beleza, que levam a vida, que matam a sede. Águas que movem moinhos, que jamais voltarão, águas que levam os sonhos da mineirada, mas que como os sonhos se renovarão.
Grandeza de imponência única. Ali estão, selo de uma terra querida por Deus, marcam o dia a dia da população. Montanhas e montanhas, vales e vales, serras e serras, tanto faz, desde que sejam elas, as do Curral, da Piedade, da Rola Moça ou a do Cipó, imponentes como uma bandeira, impávidas como o colosso, tão belas que são, não tentam tocar o céu, mas o céu as toca.
As nuvens formam o seu manto, o sol por detrás delas se esconde. Oh! Minas Gerais, do alto de teus obeliscos naturais nenhuma outra terra contempla um tão Belo Horizonte.
Um cadim de Deus, no bule. “Xiou” o bule, a água ferveu, o “cuadô” de pano está pronto, o aroma se espalha, tomando conta da alvorada, começa mais um dia da mineirada. Amigo de cada manhã, bule de alça, bule sem alça, de alumínio ou esmaltado, bule novo ou bule velho, tanto faz, bule é bule, mas desde que seja o bule mineiro. Sinal de que o dia começou, o príncipe do fogão de lenha logo pela manhã “Xiou”, avisando que: o café tá na mesa! Juntos ali estão, a broa de milho, o pão de batata, a rosca da vovó, o bolo de fubá, a manteiga com sal, o leite e a nata. Juntos à mesa, fortalecem a mineirada, para mais um dia na lida, pois a cangalha já está atrelada, a enxada está esperando, o sol que já vem despontando.
Dia mineiro o que tens de especial? Em nada vejo-te superior, nada tens de melhor, a não ser o fato de ser por si só, mineiro. O príncipe do fogão de lenha não para de trabalhar, basta bater palmas, lá está, novamente “Xiou”, a visita chegou. O bule pode ser, paulista ou nordestino, sulista ou nortista, árabe ou inglês, Made In China ou Tailandês, não importa, bule é bule desde que sejas tú Oh! Bule, o bule mineiro, a ditares o sabor de mais um dia da mineirada.
Um cadim de Deus, na história. Terra da arte clássica, e do barroco. Terra de minas, de riquezas incontáveis, de ouro e prata, de pedras sem fim. Tuas minas, Minas, não embelezam somente a ti, mas o mundo todo. Enfeitaram a cabeça de reis e seus palácios, ornaram mulheres, sacrais e igrejas. Foste sinônimo de poder, de riqueza, foste palco da dor e da pobreza, descoberta por bandeirantes, liberta por Tiradentes. És uma terra sem igual, não fundada, mas estabelecida, não regida, mas artisticamente cuidada, não és o centro do mundo, tu és somente Minas, e quem é Minas não precisa de outro título, porque tua beleza não está na esplendorosa grandeza das megalópolis mundiais, mas na tua simplicidade de ser apenas Minas. Como diria o poeta “quem te conhece não esquece jamais, oh! Minas Gerais”.
Terra que Demonstra um Deus de poder, que tudo formou, um Deus artista, com senso de humor. Basta ver as alterosas, basta ver o bailar das nuvens, basta ver o tom das cores do entardecer mineiro, basta ver a poesia das sombras, basta ver o silêncio das matas, basta ver os teus sabores, basta ver as pequenas coisas que o mineiro vê, porque naquilo que ele vê, só o mineiro adorador vê, “um cadim de Deus”.
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